Tuesday, January 17, 2006

Finalmente!!! Consegui escrever algo para por aqui! Espero que dê pra manter um ritmo... Essa postagem é especial por alguns motivos: é o meu preimeiro conto realmente terminado, e também é dedicado a um grande amigo... Bom, lá vai... espero que comentem !


A refecundação dos homens

Zhan Rah era o forte comandante das forças que protegiam a cidade sagrada de Shin Ki - terra de todos os homens -, bravo, sagaz e frio como os raios da primeira tempestade do verão. Questionava-se entre aqueles que o temiam, uma vez que não se sabe se alguém jamais lhe teria dedicado outro tipo de sentimento que não o temor, se seu temperamento tão impassível e duro firmava-se sobre um coração desabitado de sentimentos brandos ou sobre a incapacidade de cultivar o amor por qualquer um que fosse. Obstinação, dureza e virilidade encontravam-se nele para constituir o expoente máximo de sua expressão.
Em uma noite fria, em campanha com seus homens montados em bestas mitológicas voadoras, passou, de desaviso, demasiado perto de uma frondosa árvore, derrubando um ninho de um de seus ressequidos galhos então submetidos a meses de inverno intenso. O ocorrido de forma alguma o impediu de prosseguir em sua cavalgada sobre os trovões, ficando o emaranhado de pequenos galhos e ovos quebrados no chão. Não ocorrera em nenhum momento ao comandante Zhan Rah ter destruído o ninho do pavão córneo, criatura magnífica que habita os céus e os infernos dando-lhes beleza de maneira indiscriminada, tamanha a aura de poder com que conta a ave ancestral dos deuses. A ave, ao ver destruída a chance de renascer na terra através de seus ovos dourados, rasgou com suas garras e bico o próprio corpo, derramando seu sangue e vísceras sobre os restos de sua insolência sobre o bem e o mal, a beleza livre e pura, e os ramos de ninho desfeito. A partir do fato o céu enegreceu-se e o sol mais uma vez se escondeu, mais acovardado do que na noite do perverso banquete de Atreio. A noite caiu também sobre as mentes dos habitantes da cidade de Shin Ki, e suas mentes embruteceram a ponto de só terem olhos ao seu cotidiano pútrido, na clausura da adoração de falsos deuses, como a intriga, a inveja e a vaidade, que dançavam obscenas sobre as mesas das ceias, sobre as pias batismais e sobre os leitos dos amantes.
Do sacrifício do pavão magnífico nasceu um belo jovem, com olhos de cordeiro, porte de um cervo, toque de abismo. Caminhou ele em direção à cidade, nu, com seu ostentoso chifre, feito de paixão. Em seu caminho pelas vias citadinas, ainda que penosamente por não quererem vesti-lo, as mulheres lho agasalharam, cuidaram de seus cabelos de milhões de cores e o pentearam à moda dos homens do lugar. Seu andar não se deteve nem por si próprio nem pelos outros, de modo que se dirigiu os portões da casa militar, onde finalmente parou diante de seus portões. Nenhum dos soldados ofereceu resistência, tamanha a fascinação com a visão do formoso jovem, de forma que facilmente e sem demora encontrava-se na sala do comandante. Zhan Rah ao ver a doce criatura encantou-se, e seus olhos verteram lágrimas, suas pernas perderam a força e o poderoso guardião da cidade prostrou-se diante do pavão nascido homem e tocou-lhe o chifre, que se tornou uma carnosa fruta. Depois de comer o fruto e de sorver seu sumo adocicado até que só restassem os bagos, Zhan Rah se encheu de gozo jamais experimentado por si outrora, e, assim, depositou as sementes que restaram no jardim da cidade e dali nasceu um pequeno arbusto, que produzia mais frutos incessantemente, e todos da cidade dele poderiam experimentar. A partir de então a cidade foi tomada por um novo espírito, abandonando seus pensamentos obscuros e desviados, vendo beleza em todos os seus pares, fauna e na flora, amando-os com corpo e alma. Os animais saíram de suas tocas para com os homens confraternizar e o sol novamente voltou a dançar pelos céus, conjurando da felicidade de todos.