Tuesday, January 27, 2009

Enxerto

Mãos no meio das pernas.
O que está acontecendo?
Vim pra cá, tiramos a roupa
E não sou mais a mesma coisa.
Talvez tenham sido as luzes,
A bebida, o que fumei, sei lá...
Posso ter exagerado mesmo,
Quem sabe é a casa,
Ou me mutilei de tanto mudar.
Se cada um que me despe leva um pedaço,
Bem pode ter sido isso.
Alguém tomou pra si,
Ou foi você...
Passei tanto tempo olhando,
Olhando, seus olhos, suas pernas,
Os olhos de novo.
Você pegou sem pedir,
Vai ter que dar outro,
Senão não sou eu.
Devolva-o de alguma maneira,
Faça algo.
Adianta mostrar as mãos vazias?
Sequer posso olhá-lo de novo,
Pois tem mãos que surrupiam.
Ficarei pronto e atento,
Uma pedra lisa pelo formão implacável,
Sem sexo.
Até que entre em mim,
E sumindo o seu, renasça o meu.

Monday, January 26, 2009

Dióscuros Profanos

Ah, se tu soubesses o tanto que te amo,
Como sinto a distância, o tempo e a morte
Que nos separam, te levantarias
Para comigo deitar em leito menos definitivo.
As preocupações com os anos que passaram,
Com o corpo que tiveras na juventude são banalidades
Perto da candência de tuas palavras em mim
E de como machucam e me fazem gozar.
Não importa os vermes te comeram a carne,
Pois estou em teus encontros e por trás de teus olhos
E as lágrimas que te talharam a face eu senti.
Quero confraternizar-me,
Unindo no absurdo do pensamento a minha libido e a tua,
Num himeneu que faria minha pobre metrópole cair,
A tua reerguer e fazer-lhe brilhar o farol novamente.
Chuva de Verão

Ainda há pouco
As nuvens eram várias, condensadas,
E fachos de luz indireta evidenciavam a separação entre elas.
O vento fez seu trabalho lá em cima,
E as juntou para formar um todo cinza,
Mais pálido do que das várias nuvens de antes.
O ar ficou pesado nas vias respiratórias
E um trovão muito baixo soou,
Fazendo meus órgãos internos ficarem atentos
Às gotas de água que iniciariam, em segundos,
Uma repentina corrida até o chão.
Levantei-me rapidamente e fui até a janela,
A tempo de ver pingos de chuva pararem a própria queda
E me olharem amorosos, com sorrisos iguaizinhos ao seu.