Monday, February 06, 2006

O velho e o cachorro

O velho histérico grita na rua.
- Filho da puta! Morfético! Deeesgraçado!
É o cachorro a passar.
Tímido, um pano esfarrapado ambulante.
O cachorro olha, e segue.
Mais berros e praguejamentos ecoam pelo ar,
O velho se ajoelha e chora.
E não é mais o cachorro que ia cagar,
Nem sua indolente mirada.
É o tempo que não lhe pertence,
O paralelismo de sua realidade.
Seus sentidos são seus inimigos.
Ele vê bem, ouve bem, e dói.
Quer se cegar a todo momento,
Estourar os próprios tímpanos.
Silenciar e contemplar o passado,
Para não mais, obscenamente,
A realidade dançar defronte ao seu leito.