Sunday, January 20, 2008

Qual é o limite pra mim? Essa é uma pergunta que nos últimos tempos tem me ocorrido com frequência, e geralmente associada à idéia de que minha vida tem um fim a ser cumprido. Essa maneira de enxergar essa coisa, essa linha, já foi orientada por diversos vetores, algumas vezes por mais de um no mesmo momento, e por um vetor apenas durante muito tempo. O meu julgamento dessas coisas vem do pico dos meus 23 anos, uma vez que farei 24 semana que vem. Por incrível que pareça, não me sentei aqui pra escrever pensando no meu aniversário, comecei a escrever por tédio. Hoje chove, o céu está branco no final da tarde, lavei a louça, arrumei o quarto, deixando dois copos que estavam embaixo da cama pra lavar depois.

Voltando à questão do porquê da vida, já me orientei por algumas “grandes idéias” durante algum tempo, e todas elas tiveram uma avassaladora entrada no meu caminho. A primeira delas me parece específica demais, não sei se nomeando-a acabo por esclarecer ou por confundir quem lê este texto. Lembro-me de uma frase muito marcante de quando era criança, depois de fazer alguma arte que não deveria ter sido feita, e acabava por ser descoberto ou por me denunciar – passei a me denunciar depois de ter sido pêgo algumas vezes. “Não adianta você esconder isso, porque nós acabaremos descobrindo tudo”. Antes que alguém queira crucificar meus pais pensando que usavam isso exclusivamente para me intimidar, ainda que tenha de fato acontecido, isso também era dito quando algo de mal me acontecia e não contava: quanto mais cedo dissesse, menos sofreria, pois eles me ajudariam.

Aos 10 anos, mais ou menos, estava eu na igreja. Por opção. E sei que parace bastante engraçado. Garotos não têm muita gana de rezar nessa fase, mas não me interessa falar nos motivos que me fizeram ir até lá, porque o que importa é o que aprendi. Passei a acreditar que havia um Deus, e por incrível que pareça, porque acho que seja incrível mesmo, isso só significava pra mim que existia certo e errado. Rapidinho deixei de acreditar naquela história de que aquele cara pregado na cruz fosse lá se preocupar muito com quem as pessoas transavam, meio teoria da conspiração demais – afinal, sexo é algo que está em todo lugar, mas principalmente na casa das almas. Quando comecei a ter atração por homens, por exemplo, mais me apavorava macular a divina imagem dos meus pais do que a divina imagem de Jesus. Somando o aprendizado do meu presépio particular na rua Santa Cecília e no público, da rua dos Crisântemos, criei na cabeça duas imagens muito fortes, uma era a implacável verdade, muito material, e cuja existência é inegável e a outra, a do correto e do bom, definitiva para minha capacidade de compreender a relação com as pessoas.

Mais tarde, o deus da igreja se tornou supérfluo, afinal, o caminho aberto para essa figura já havia sido percorrido por ela mesma. Anos mais tarde caía eu, adolescente, de amor. Quando penso sobre essa fase, vejo que começava a perceber que crescia em relação às grandes idéias que encontrei. O que o amor teve de interessante foi sua conexão com o físico. As portas para o prazer estavam abertas, assim como a do fascínio pelo material, pelo gozo. Muito, muito e mais! Da infância barroca à adolescência romântica, eu acreditava ter encontrado um novo componente para completar o quadro, e que isso seria suficiente, o par. O amor, passado um tempo, assim como eu, mudou de corpo, tomou umas formas diferentes, ficou mais quente, passou a exigir mais, atribuiu novo sentido e vigor à inevitabilidade da vida. O impulso dado por ele colocou meus sentidos e membros a experimentar as coisas, a ultrapassar aquilo que qualquer um possa me dar. Me tornei pesado, insuportável ou maior, cada adjetivo aplicado da maneira certa às circunstâncias mais variadas, caminhando para o futuro e para o passado, pra cima, inclusive, da pergunta que me fiz quando comecei a escrever.

Thursday, January 03, 2008

30 de dezembro, 2008, domingo

As ruas de São Paulo me acolheram nessa tarde. Olhei o movimento e tudo parecia tão vazio que já ia começar a fazer poesia idiota aqui da janela da sala. É claro que quem estava vazo era eu, e não a cidade, por isso, resolvi caminhar um pouco, matar o tempo.

O calor que fazia não me incomodou nem um pouquinho, afinal a luz era tanta, e o espaço estava tão entregue a ela que não resisti em me sentir bem. Dessa vez a vontade e a disposição de me sentir com autopiedade tiveram de ceder.

Cheguei à praça, sentei no banco, esperei alguém passar. Depois de contar dezessete pessoas me dei conta de que cantava baixinho e tamborilava com os dedos uma música todo o tempo: Magnólia. Percebi que tinha passado por algum lugar onde a ouvi sem notar. A cidade, afinal, brincava comigo, e para rirmos juntos só faltava eu começar.